domingo, 26 de abril de 2009

Me identifico com quase tudo... Risos!!

Martha Medeiros
Zero Hora - 26/04/09
  • Sapatos e sapatas

    "Simone de Beauvoir disse que uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher, e imagino que pra efetuar essa transformação ela precise, entre outras coisas, confirmar seu sexo através de hábitos e manias comuns à espécie. É aí que me pergunto: que tipo de mulher eu me tornei, santo Cristo?

    Não gosto de falar ao telefone, por exemplo. Uso o aparelho para o que me foi ensinado: dar recados, combinar encontros, cumprimentar por uma data, agradecer uma gentileza, convidar para um jantar, resolver um pepino, marcar uma consulta, fazer um pedido. Nada que leve mais de dois ou três minutos. Bater papo, só em ocasiões muito especiais, como matar a saudade de uma amiga que mora longe ou de um namorado que esteja viajando. De resto, e-mails. Se jogar conversa fora ao telefone for um inquestionável atributo feminino, então ainda não me tornei uma mulher comme il faut.

    Tampouco me identifico com os Delírios de Consumo de Becky Bloom: acho uma chatice comprar roupa. Geralmente escolho duas ou três lojas da cidade, sempre as mesmas, e lá me resolvo a cada início de estação. Bater perna para olhar vitrine? Só em viagem, com todo tempo do mundo, e sem ceder ao impulso de ter que entrar em cada lugar e comprar uma coisinha. Se vale para bolsas e sapatos? Vale, madames. Eu simplesmente não compreendo quem tem mais de, vá lá, 20 pares – e estou exagerando na conta porque estou incluindo tudo: tênis, sandálias de festa, escarpins, rasteirinhas, botas, chinelos de dedo e pantufas.

    Pra completar meu desajuste, não sou de dar corda pra fofoca. Não gosto de falar de filhos, empregadas e liquidações. Não levo fotos em carteira. Não comemoro convites para chá-de-fralda e chá-de-panela. Acho peito de silicone vulgar. Nunca entrei no cheque especial. Viajo com uma única mala. Repito vestidos que tenho há 10 anos. Não possuo uma única peça cor-de-rosa. Não sei fritar um ovo. Às vezes até custo a acreditar que não seja sapatona.

    Pensei em pesquisar de onde saiu esse termo agressivo, sapatona, para designar mulheres homossexuais. Mas nem me dei ao trabalho, só pode ser por associação a um pé grande, como se fosse prerrogativa dos rapazes calçarem mais de 39. Já deram uma olhada nos pezinhos das garotas de hoje? São todas ninfas diáfanas que, caso deixassem pegadas na neve, seriam confundidas com o Godzilla.

    Me tornei mulher porque me tornei independente, antes de tudo. Não sou de frescura e muito menos de compulsões consumistas. Mas ainda tenho um lado mulherzinha: choro à beça, sou louca por flores, não vivo sem meus hidratantes, aprecio o cavalheirismo, gosto de ficar de mãos dadas no cinema, devoro revistas de moda, me interesso por decoração e fico chocada quando escuto expressões grosseiras."

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Divã

"Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoraçao ou seu desprezo...
O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia."
(trecho de O Divã)
Martha Medeiros

terça-feira, 14 de abril de 2009

Gostei deste texto...

Onde já se viu, aquele retirante que nem fala direito sentado ao lado da Rainha?
Luis Fernando Veríssimo ontem, nos jornais, vc leu? 06/04 - Julio Hungria

Encosto ou não encosto? Só o joelho. O que pode acontecer? Ela dizer "Mr. Lula, please!" Aí eu recolho o joelho, peço desculpas, "aimsórri, aimsórri" e pronto. Se eu soubesse falar inglês, explicaria. Sabe o que é, Elizabeth? Eu estava aqui pensando - quando é que, lá em Pernambuco, eu ia imaginar que um dia estaria sentado ao lado da rainha da Inglaterra? Não sei quem é que me botou aqui para tirar esta fotografia dos G-20. Não acho que tenha sido um pedido seu - "Quero o bonitinho de barba à minha esquerda". Claro que não. Mas o fato é que estou aqui e o Barack está aí atrás em algum lugar, de pé e se perguntado o que eu tenho que ele não tem. O Sarkozy não deve nem estar aparecendo. Ficou atrás da Merkel e não vai sair na foto. E eu aqui ao seu lado, na primeira fila. Isto significa muito, viu Elizabeth? Lá na minha terra vai ter gente se mordendo de raiva. Onde já se viu, aquele retirante nordestino que nem fala direito sentado à esquerda da rainha da Inglaterra?


Quando eu me elegi muita gente ficou horrorizada - como é que vai ser quando ele, um torneiro mecânico, tiver que nos representar num jantar oferecido, por exemplo, pela coroa inglesa? Vai ser servido na cozinha, para não dar vexame na escolha dos talheres. E aqui estou eu, sentado ao lado - com todo o respeito - da coroa inglesa em pessoa.

Se foi o protocolo que me botou aqui, ele acertou, viu Beth? Você, queira ou não, não é só a rainha dos ingleses, é, simbolicamente, a rainha de todos os loiros de olhos azuis do mundo, incluindo o Barack. De todos os bandidos que causaram esta crise e hoje nos infernizam a vida. E, de certo modo, eu sou o seu oposto. Sou uma espécie de rei republicano dos não-loiros do mundo - ou pelo menos deve ter sido essa a idéia do protocolo aos nos botar lado a lado. Todos os outros chefes de Estado desta fotografia seriam dispensáveis. A foto poderia ser só de nós dois e estariam todos representados. E isto significa outra coisa também, viu Beth? Eu não me contentei em ter nascido na miséria, no Nordeste, e quis mais. Não me contentei em ser um torneiro mecânico em São Paulo e quis mais. Não me contentei em ser um líder sindical e quis mais. Não me contentei em perder eleição atrás de eleição, insisti e acabei presidente.

Agora estou aqui, lado a lado com a rainha da Inglaterra, num dos pontos mais altos da minha carreira, e também quero mais. Por isso minha perna se moveu e meu joelho encostou no seu. De certa forma, o movimento da minha perna foi o passo final da caminhada que começou em Pernambuco, tantos anos atrás. Já que, ao contrário de você, Beth, não posso ficar no poder para sempre.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Voltei!!!

NÃO HÁ NADA QUE ME DEIXE MAIS FRUSTRADA DO QUE PEDIR SORVETE DE SOBREMESA,CONTAR OS MINUTOS ATÉ ELE CHEGAR E AÍ VER O GARÇOM COLOCAR NA MINHA FRENTE UMA BOLINHA MINÚSCULA DO MEU SORVETE PREFERIDO ? UMA SÓ.

QUANTO MAIS SOFISTICADO O RESTAURANTE, MENOR A PORÇÃO DA SOBREMESA.

O SORVETE É SÓ UM EXEMPLO DO QUE TEM SIDO NOSSO COTIDIANO.

A VIDA ANDA CHEIA DE MEIAS PORÇÕES, DE PRAZERES MEIA-BOCA, DE AVENTURAS PELA METADE. A GENTE SAI PRA JANTAR, MAS COME POUCO.

VAI À FESTA DE CASAMENTO, MAS RESISTE AOS BOMBONS.

CONQUISTA A CHAMADA LIBERDADE SEXUAL, MAS TEM QUE FINGIR QUE É DIFÍCIL (A IMENSA MAIORIA DAS MULHERES CONTINUA COM PAVOR DE SER ROTULADA DE 'FÁCIL').

ADORA TOMAR UM BANHO DEMORADO, MAS SE CONTÉM PRA NÃO DESPERDIÇAR OS RECURSOS DO PLANETA.

QUER BEIJAR AQUELE CARA 20 ANOS MAIS NOVO, MAS TEM MEDO DE FAZER PAPEL RIDÍCULO.

TEM VONTADE DE FICAR EM CASA VENDO TV, ESPARRAMADA NO SOFÁ, MAS SE OBRIGA A IR MALHAR. E POR AÍ VAI.

TANTOS DEVERES, TANTA PREOCUPAÇÃO EM 'ACERTAR', TANTO EMPENHO EM PASSAR NA VIDA SEM PEGAR RECUPERAÇÃO...

AÍ A VIDA VAI FICANDO SEM TEMPERO, POLITICAMENTE CORRETA E EXISTENCIALMENTE SEM-GRAÇA, ENQUANTO A GENTE VAI FICANDO MELANCOLICAMENTE SEM TESÃO....

ÀS VEZES DÁ VONTADE DE FAZER TUDO 'ERRADO' ? DEIXAR DE LADO A RÉGUA, O COMPASSO, A BÚSSOLA, A BALANÇA E OS 10 MANDAMENTOS.

SER RIDÍCULA, INADEQUADA, INCOERENTE E NÃO ESTAR NEM AÍ PRO QUE DIZEM E O QUE PENSAM A NOSSO RESPEITO.

NÓS QUE ESTAMOS AQUI DE PASSAGEM, PODEMOS (DEVEMOS?) DESEJAR VÁRIAS BOLAS DE SORVETE, BOMBONS..., VÁRIOS BEIJOS BEM DADOS, A ÁGUA BATENDO SEM PRESSA NO CORPO, O CORAÇÃO SACIADO.

UM DIA A GENTE CRIA JUÍZO.

UM DIA.

NÃO TEM QUE SER AGORA.

POR ISSO, GARÇOM, POR FAVOR, ME TRAGA UM SUNDAE E UM SOFÁ PRA EU VER 10 EPISÓDIOS DA SÉRIE QUE EU ADORO...

UMA CAIXA DE TRUFAS BEM MACIAS E O RICHARD GERE, NU, EMBRULHADO PRA PRESENTE. OK ?

NÃO NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM.